Por um lado, há o excesso de positividade, que não passa de uma forma de alienação. A ingenuidade de acreditar que aquilo que não se conhece é sempre melhor do que aquilo que se conhece.
A antiguidade só se valoriza onde não foi adquirida, onde nada se sabe sobre ela. Assim que é familiar, perde o encanto. Esta mentalidade é fruto da mesma ingenuidade que nos leva a glorificar a ação pelo simples facto de agir. Uma fobia à inação, uma necessidade de preencher o vazio com movimento, mesmo que esse movimento seja inútil.
A crença de que fazer algo é sempre melhor do que não fazer nada não é apenas uma fuga, mas também uma incapacidade de aceitação e apreciação da própria existência. É uma recusa em encarar a realidade. No mercado comercial, esta lógica transforma-se em produtividade tóxica. É preciso apresentar números, mostrar quantos clientes foram adquiridos, mesmo que para isso se ignore quantos foram perdidos, o cliente novo é sempre melhor que o antigo. A mudança constante é vista como progresso, mas não passa de uma fuga desesperada ao reconhecimento de que, muitas vezes, o melhor seria simplesmente parar.
O mesmo se reflete na valorização profissional. Funcionários são em média mais valorizados quando mudam de empresa do que quando permanecem. Mais uma vez, desvaloriza-se o conhecido e idolatra-se o desconhecido, como se a galinha do vizinho fosse sempre melhor alimentada.
- Tiago Barriga
O mesmo se reflete na valorização profissional. Funcionários são em média mais valorizados quando mudam de empresa do que quando permanecem. Mais uma vez, desvaloriza-se o conhecido e idolatra-se o desconhecido, como se a galinha do vizinho fosse sempre melhor alimentada.
Mas, no fundo, esta inquietação não passa de uma estratégia para esconder a ansiedade. A ação constante serve para evitar o confronto connosco mesmos. E, numa escala maior, a sociedade faz o mesmo. Evita olhar-se a si mesma e, para isso, disfarça-se de progresso. Glorifica o seu próprio distúrbio e protege-se na ignorância coletiva. Se todos os loucos concordam que a loucura é normal, então ninguém é louco. E esse é o maior risco de qualquer grupo: cair na ignorância convencida e na idiotice, sem sequer se dar conta.
O delírio (e crença) daquilo a que chamamos evolução nasce também desta mesma raiz.
O delírio (e crença) daquilo a que chamamos evolução nasce também desta mesma raiz.
- Tiago Barriga